A música popular minhota,
nomeadamente o vira, da qual temos orgulho de a preservar e de a difundir, tem
raízes que vão para além da superficialidade que os sentidos atestam, e
representa uma forma de viver onde a alegria, a cor e a perseverança são representados.
Reparem no forma de dançar, braços no ar e não descaídos, é uma atitude de luta
e não de resignação, de força e não lamentação. Era a forma de viver dos nossos
antepassados.
Sem a intenção de fazer uma
apologia ao folclore mas com o intuito de emergir e lembrar a atitude que está
por detrás das nossas raízes, o semanário Expresso publicou um artigo, no dia
6.4.2012, de autoria de Bruno Bobone, Presidente da Associação Comercial de
Lisboa, intitulado “Porquê o Fado e não o Vira?”, do qual reproduzo algumas
partes.
“Pena que o maravilhoso fado, originário de um território
menos populoso que o do vira, tenha conseguido afirmar-se como característico
da forma de estar e viver do nosso povo.
Se tivéssemos seguido o vira seríamos, sem qualquer dúvida,
um país muito diferente, muito alegre e mais activo, menos parado e menos
receoso. Se tivéssemos escolhido o vira, até pode ser que já não nos
considerássemos na cauda da Europa mas na sua cabeça, já que sendo duas
extremidades fomos nós que, ao contrário do que aconteceu há 500 anos,
comodamente nos colocamos na que nos dá menos trabalho e que assume menos
riscos de termos de fazer algo pelos outros. Se fossemos a cabeça já não
teríamos tempo para descansar pois estaríamos sempre em ebulição. Sendo a cauda
apenas servimos para nos balançar, pois por sorte não nos calhou a cauda do
macaco que sempre teria alguma utilidade.
[..]
Temos de conseguir mudar o nosso ânimo, de conseguir assumir
o risco, de ser responsáveis pelo nosso destino, de ser mais alegres. Temos
mesmo de mudar! Não deixemos culturalmente o fado, mas tomemos para as nossas
vidas o vira!”