segunda-feira, 17 de outubro de 2011

ENSAIOS PARA A NOVA TEMPORADA

No próximo dia 4 de Novembro vamos começar os ensaios para a próxima época de folclore. Se gostas de folclore, tens jeito para dançar ou queres aprender a dançar, tocar (viola, cavaquinho, ferrinhos, braguesa, concertina, ou outras percussões), aparece. Também podes vir apoiar a logistica ou cantar. Não interessa a idade. O autocarro tem sempre mais um lugar para ti. Aparece na nossa sede, junto ao pavilhão gimnodesportivo de Sequeira (junto à escola primária), às 21h15m. Despe preconceitos e traz boa disposição e o resto é transpiração. Para qualquer contacto, consulta aqui os "Contactos" ou no facebook "Rancho Folclórico Sequeira Braga". E como canta o Zeca Afonso "traz um amigo também".

sábado, 8 de outubro de 2011

As danças e folclore – algumas bases para a compreensão

O folclore é o estudo dos usos e costumes, das tradições espirituais e sociais, das expressões orais e artísticas que permanecem num povo evoluído, numa classe social ou num estrato social evoluído; precisamente a herança cultural tradicional de um povo evoluído. Ou seja, as danças apresentadas pelos ranchos folclóricos, são apenas uma parte dos elementos folclóricos de um povo. No entanto, vamo-nos deter nelas.
De acordo com os parâmetros definidos pelo investigador, coreólogo e folclorista francês, Louis Maurice, são consideradas danças folclóricas portuguesas o “galandum”, o “pingacho” e a “dança dos pauliteiros”, todas elas bailadas na região de Miranda do Douro; algumas danças de aspecto dramático como, por exemplo, a “dança de Genebres”, da Lousã (Beira Baixa), a “dança do Rei David”, de Braga; a “dança dos ferreiros”, de Penafiel; o “vilão”  e as “mouriscas”; o “malhão”, a “chula rabela” e alguns “viras” em determinados aspectos; a “dança da tranca”, de Silvares (Beira Baixa); alguns “fadangos” como os que, por vezes, com certo cerimonial de possível herança ritualista ainda se bailam em terras de Miranda, Minho e Beira Baixa – são danças folclóricas, não só se inserem numa arcaica tradição como, também, porque na sua origem foram danças de significado religioso, ritualista, mágico ou laboral, e ainda, porque se revestem de uma forte carga de simbolismo.
Na dança quer se trate folclórica, popular ou ballet, é necessário considerar os elementos que a constituem, ou seja, os elementos de que é formada: o simbolismo, a forma, os acessórios, a coreografia, a música e a técnica.
O simbolismo é a ideia básica que preside a cada dança, que a explica, que a justifica.
A forma é a maneira como a dança é realizada (em roda, em fila, em cruz,…)
Os acessórios são compostos pelos trajes, pelos objectos usados pelos dançarinos.
A coreografia  compreende a interligação e desenvolvimento dos passos, dos gestos, poses, movimentos, linhas. É de uma importância capital porque procura exprimir o simbolismo, ideia da dança.
A música serve a dança, antes mercê do seu ritmo do que da sua melodia. O que se dança na música é o ritmo.
A técnica, ou seja, a natureza e a forma material dos movimentos (voltas do vira, braços no ar, roda à direita, roda à esquerda, cruzamentos, etc…
O mais importante numa dança folclórica é o seu simbolismo, cujas raízes na maior parte das danças estão perdidas, e o que vemos são lampejos do passado.
Como curiosidade,  no que se refere à dança nesta faixa ocidental da Península Ibérica, as informações mais antigas que existem referem-se aos Lusitanos, povo celtibero, que foram subjugados pelos romanos. Estrabão e outros cronistas romanos relatam o particular gosto que os lusitanos nutriam pela dança e a importância social que ela tinha entre eles. Conforme Estrabão descreveu “mesmo bebendo, os homens põem-se a dançar, ora formando coros ou ao som da flauta e da trombeta, ora saltando cada um por si a ver quem salta mais alto e mais graciosamente cai de joelhos. Na Bastetânica, as mulheres dançam também. Misturadas com os homens, cada uma tendo o seu par na frente, a quem de vez em quando dá a mão”. Isto quer dizer que há dois mil anos as danças populares dos nossos antepassados tinham as seguintes características: acompanhamento instrumental, coral e havia danças colectivas, aos pares (homem-mulher) quer de frente quer de mão dada.
Danças características do Minho:
Vira

O vira é uma das mais antigas danças populares portuguesas; dele já Gil Vicente nos fala na sua peça Nau d’Amores dando-o como uma dança do Minho. Com efeito, o vira é uma dança de tradição minhota, embora se baile, de maneira diferente, também na Nazaré e no Ribatejo, e, hoje, se baile à maneira minhota em quase todo o País. O vira é, de uma maneira geral, a dança popular portuguesa mais característica e popularizada. Há inúmeras variantes ¯ tanto musicais como na maneira de o bailar: vira de roda, vira estrepassado, vira afandangado, vira valseado, vira-flor, vira de trempe, vira galego, vira ao desafio, vira poveiro (da Póvoa de Varzim), etc. Do ponto de vista musical, o vira pode ser menor ou maior e é muito semelhante ao fandango; porém, o fandango dança-se de diferente maneira. O vira minhoto, isto é, o vira em maior, é semelhante ao malhão e à chula. O vira em menor não é minhoto. O vira não tem estribilho: a quadra da cantadeira repete o coro dobrado em terceiras ou somente em dois versos e um larai como estribilho; quer dizer: como o vira não tem estribilho, o coro repete os versos dos cantadores. É da praxe minhota começar a cantiga no segundo verso. O vira distingue-se do fandango pelo verso da canção, mais longo no fandango.

Malhão

Ao malhão também lhe chamam “a moda das caminhas”, “a rusga” ou “o Senhor da Pedra”. Embora se baile também na Beira Alta, o malhão é uma dança tipicamente minhota, do Minho Litoral, muito semelhante à chula. Dança muito antiga, tem, como a chula, acompanhamento de canto: o seu acompanhamento musical é de instrumento e cantador.

Chula
A chula, ou xula, é uma dança popular portuguesa muito antiga. Gil Vicente refere-se a ela numa das suas peças ou autos teatrais. É uma dança que tem cantador, ou cantadeira, ao desafio, mas o seu estribilho, ou refrão, é só instrumental. Baila-se a chula ¯ que é uma dança tipicamente nortenha ¯ do Minho à Beira Alta setentrional. Porém, a chula do Alto Douro tem instrumentos especiais e especial maneira de se bailar. Tal como o malhão, a cana-verde e o vira, a chula pode acompanhar-se apenas pelo ritmar da viola ramaldeira e, tal como aquelas, que são danças típicas do Minho e do Douro, pode ser acompanhada pela «ronda minhota» (espécie de pequena orquestra campesina composta de clarinete, rabeca, harmônica, cavaquinho, viola, violão, bombo e ferrinhos) ou pela “festada duriense” (que é constituída pelos mesmos instrumentos, menos o clarinete, que é substituído pelas canas).

Fandango

 Do ponto de vista musical, o fandango é semelhante ao vira, porém, baila-se de diferente maneira; de resto, o atual vira é possivelmente o antigo fandango agora dançado em cruz. Dança que nos veio de Espanha, o fandango enraizou-se em Portugal, onde é bailado em quase todo o país desde há muito. O Prof. Armando Leça, que estudou com particular atenção as canções e as danças populares portuguesas, dá o fandango como dança que ainda hoje se baila no Douro Litoral, no Minho, em Trás-os-Montes (terras mirandesas), na Beira Litoral, na Beira Alta, na Beira Baixa, na Estremadura, no Alentejo e no Algarve. Contudo, as regiões onde o fandango é mais bailado e goza de maior preferência do povo são o Ribatejo, as raias minhota e da Beira Baixa (Castelo Rodrigo e Idanha-a- Nova) e as terras interiores de Beira Litoral (Pombal, Ansião, Figueiró dos Vinhos, etc.). Velha dança espanhola, o fandango é, também, uma dança portuguesa muito antiga. Bocage refere-se a ela e o escritor inglês Twiss, que visitou o nosso país em 1772, diz que viu «o fandango dançado em Portugal com grande galanteria e muita expressão». E Gil Vicente usa, às vezes, o termo “esfandangado”. No Ribatejo, na Beira Litoral e nas terras raianas do Minho e da Beira Baixa, bem como em algumas regiões do Alentejo e da fronteira algarvia, é onde melhor se baila o fandango. No Ribatejo bailam-no ao som de harmónica (gaita-de-beiços) ou harmônio (gaita-de-foles); já, contudo, em Ferreira do Zêzere, na serra de Tomar, em Mação e em Borba o bailam ao som de guitarra. Nas terras mirandesas (Trás-os-Montes) bailam-no em roda. Há uma dança que é uma miscelânea de vira e fandango: o vira afandangado. O verdadeiro vira afandangado parece ser o do Ribatejo, onde, muitas vezes, o bailam em cima de mesas. O vira afandangado do Minho vira galego é de feição vocal e baila-se aos pares, de roda. A voga do fandango entre os portugueses está de tal maneira arreigada no seu gosto que o levaram para o Brasil. Nos estados do Nordeste brasileiro baila-se o fandango; porém, nessas regiões não lhe dão tal nome, mas sim outros nomes que bem denotam que foram os portugueses que para lá levaram essa dança: “bailado dos marujos”, “dança dos marujos”, “marujada”, “chegança dos marujos” ou “barca”. No Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul (terras do Brasil), a palavra “fandango” quer dizer “festa”, “baile” ou, simplesmente, “reunião onde se dança”.

Gota

A gota é uma dança popular portuguesa, bailada no Minho, que nada tem a ver com a “jota” espanhola (geralmente conhecida pelo nome de “jota aragonesa”). Há, contudo, íntimas relações entre a gota, o vira, o fandango e a jota espanhola; a gota é, porém, uma espécie de fandango. O fandango distingue-se da gota porque esta possui um caráter mais instrumental. O desenvolvimento melódico da gota aparenta-se com o da tirana, que é, também, uma dança popular portuguesa. A gota baila-se da mesma maneira que o fandango, apenas com um ritmo um pouco diferente.


Regadinho

O regadinho é uma dança popular que se vulgarizou no século passado e se baila em todo o Norte do País e também na Beira Litoral. É, por isso, uma dança híbrida, quer dizer: com algo de nortenho e algo de litoral. Dança bem ritmada, é, pouco mais ou menos, uma marcha; este seu aspecto leva-nos a crer que se trate de uma dança de salão ou burguesa, importada de Europa após as invasões francesas. No Norte bailam o regadinho sem acompanhamento instrumental, apenas acompanhado à viola, ao passo que na Beira Litoral o bailam ao som da guitarra.

Verde-Gaio

Embora seja uma dança tipicamente nortenha, o verde-gaio dança-se em quase todas as regiões do País ao norte do Tejo e particularmente no Ribatejo e Estremadura, entre o Lis e o Sado. É uma moda de cadeia com acompanhamento de auto: quadras fixas e várias. Sendo o verde-gaio mais popular no Norte do que no Sul, é curioso notar que é na região entre o Lis e o Sado que o bailam melhor e mais a primor. Em geral o verde-gaio é acompanhado com harmônica ou realejo.

Textos retirados de “Danças Populares Portuguesas”, de Tomaz Ribas, Instituto de Cultura e lingua Portuguesa, Ministério da Educação