segunda-feira, 10 de junho de 2013

DIA DE CAMÕES - 10 DE JUNHO

Hoje dia do Maior Poeta de Portugal aqui deixamos a nossa contribuição, para que a sua pena nunca morra, com uma Sextina Camoniana:

Foge-me pouco a pouco a curta vida
(se por caso é verdade que inda vivo);
Vai-se-me o breve tempo d´ante os olhos;
Choro pelo passado e quando falo,
Se me passam os dias passo e passo,
Vai-se-me, enfim, a idade e fica a pena.

Que maneira tá áspera de pena!
Que nunca uma hora viu tão longa vida
Em que possa do mal mover-se um passo.
Que mais me monta ser morto que vivo?
Para que choro, enfim? Para que falo,
Se lograr-me não pude de meus olhos?

Ó fermosos, gentis e claros olhos,
Cuja ausência me move a tanta pena
Quanto se não compreende enquanto falo!
Se, no fim de tão longa e curta vida,
De vós m´ inda inflamasse o raio vivo,
Por bem teria tudo quanto passo.

Mas bem sei, que primeiro o extremo passo
Me há-de vir a cerrar os tristes olhos
Que Amor me mostre aqueles por que vivo.
Testemunhas serão a tinta e pena,
Que escreveram de tão modesta vida
O menos que passei, e o mais que falo.

Oh! Que não sei que escrevo, nem que falo!
Que se de um pensamento n´ noutro passo,
Vejo tão triste género de vida
Que, se lhe não valerem tantos olhos,
Não posso imaginar qual seja a pena
Que translade esta pena com que vivo.

N´ alma tenho contino um fogo vivo,
Que, se não respirasse no que falo,
Estaria já feita cinza a pena;
Mas, sobre a maior dor que sofro e passo,
Me temperam as lágrimas dos olhos
Com que fugindo, não se acaba a vida.

Morrendo estou na vida, e em morte vivo;
Vejo sem olhos, e sem língua falo;
E justamente passo glória e pena.

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