quinta-feira, 23 de junho de 2011

S. João de Braga (tradições)

A origem das Festas de S. João perde-se nos tempos, embora talvez sejam uma reminiscência das festividades do solstício de Verão fortemente enraizadas na cultura celtibera dos nossos antepassados.
Na Idade Média a Procissão do Corpo de Deus tinha carácter oficial, competindo à Câmara a sua organização. Esta procissão foi introduzida no país pela mão do Rei D. Dinis. No meio do carácter religioso da procissão conjugava-se também o cariz profano gerado pelo grande ajuntamento das pessoas quer da própria urbe quer dos seus arrabaldes,  adicionando-lhe aos poucos as suas danças e cantares não religiosos. Entre estas danças existia a célebre dança mourisca da qual derivou a actual Dança do Rei David.
No séc. XV Braga já celebrava o S. João com toda a pompa que se lhe conhece junto à Capela de S. João da Ponte mandada edificar pelo Arcebispo D. Diogo de Sousa no Sec. XVII.
Algumas tradições ainda se mantêm.
O Desfile das Rusgas
A sua origem advém do antigamente e da rusticidade, as pessoas que vinham ao arraial do S. João da Ponte, reuniam-se previamente em grupos para a grande arruada do dia 23 de Junho.   Vinham a pé das várias zonas da cidade, das aldeias e regiões vizinhas, trazendo os seus farnéis (constituídos sobretudo pelos nacos de presunto, chouriço, pataniscas, bolinhos de bacalhau, frango caseiro “à romaria”, broa de milho,…, acompanhados pelo vinho verde vertido em cabaças e pelo bagaço acondicionado nos chifres de boi) e as suas músicas e danças que exibiam enquanto se dirigiam à Capela de S. João, junto ao Rio Este, emprestando toda uma ruralidade à festa.
Hoje esta tradição é mantida pelo desfile dos vários Ranchos Folclóricos existentes no concelho, saindo do Largo da Praça do Município, descendo a Avenida da Liberdade até à tradicional Capela de S. João.

O Carro das Ervas
Este carro representa a limpeza e a aromatização das ruas da cidade que as aldeias eram obrigadas a fazer nas ruas por onde passavam as procissões e os cortejos. Outrora a representação era transportada num carro puxado por juntas de bois, hoje é transportada por um tractor. O trajo masculino e feminino dos actores é peculiar, e representa trajes do antigamente.
E assim este carro abre a acto para a apresentação dos carros subsequentes, Rei David e Pastores, espalhando ervas aromáticas pelas ruas onde passa.

A Dança do Rei David
Esta dança remonta a danças palacianas do tempo da ocupação moura, por isso, chamada dança mourisca. Esta dança era muito popular, e por isso, com o decorrer do tempo foi introduzida na Procissão do Corpo Deus.  Era uma dança representada por doze homens vestindo trajes mouros, dançando e cantando com o seu rei. 
A partir do sec. XVII a Igreja Católica proibiu-a por a achar inapropriada durante esse evento religioso.
Dada a sua popularidade e por forma não deixá-la cair em desuso, foi modificada passando de Dança do Rei Mouro para a Dança do Rei David, célebre rei hebreu, e foi integrada nas Festas de S. João.
A Dança actual é executada por uma tocata de doze músicos organizados em duas filas mais o respectivo Rei.  A música suporte da dança é de origem desconhecida, embora seja atribuída a um monge agostinho do Convento do Pópulo mas também há quem a atribua a Fernando José de Paiva que viveu em Braga no sec. XIX.
Antigamente a dança era executada a pé percorrendo as ruas da cidade. Depois este auto passou a ser executado em cima de um carro de bois, embelezado para o efeito dando-lhe um toque de salão palaciano da Idade Média. Hoje é executada em cima de um tractor cujo reboque é ornamentado para o efeito.
Para além desta dança, o Rei e a sua corte de músicos executam outros temas musicais, nomeadamente, o sempre e inigualável Hino ao S. João de Braga (várias vezes executado durante o dia), a Marcha do Gerês, a Marcha do Emigrante, a Marcha da Saudade e a Marcha do Guerreiro.
A organização da música está a cargo dos elementos da freguesia de Sequeira, Braga, a dança tem recaído numa família com raízes em Palmeira, Braga, cujo tradição tem passado de pai para filho.

O Carro dos Pastores
Este carro apresenta um auto pastoril, pensa-se que terá surgido na freguesia de Landim, V. N. de Famalicão sob o nome de Auto de S. João de Landim. E representa todo o enquadramento bíblico que envolve o nascimento de S. João Batista, nomeadamente, o anjo a anunciar a Zacarias que a sua esposa apesar da proveta idade irá dar à luz um filho ao qual se chamará João.
Este carro outrora transportado também por uma junta de bois, hoje é transportado num tractor. O carro é revestido a ramos de cedro e era. Os figurantes são crianças, sendo o elemento mais novo o S. João (criança de cerca de 3 ou 4 anos) vestido com uma túnica de pele de cordeiro, seis pares de meninos e meninas vestidos de pastor, quatro anjos (que se revezam entre si) representados por quatro meninas, o Zacarias e a Isabel .
A melodia original é de autoria de João Guedes reformulada no sec. XIX por Fernando José Paiva.
A organização tem sido atribuída à freguesia de S. João do Souto.
A tocata é composta por membros da Banda de Música de Cabreiros, Braga, dirigidos pelo Sr Braz.
Quadro Bíblicos
Nas margens do Rio Este, junto à Capela de S. João da Ponte, estará representado o Baptismo de Jesus Cristo, com imagens em tamanho natural, numa das margens, e no meio do rio uma imagem gigantesca de S. Cristóvão, com o Menino Jesus aos ombros, figurando triunfal sobre as águas do rio. Segunda uma lenda, estando S. Cristóvão na margem de um Rio apareceu-lhe o Menino Jesus a solicitar que o transportasse de uma margem para a outra, daí que o mesmo esteja colocado no meio do rio com o Menino aos ombros.

Hino ao S. João
Outro ícone da Festa é a Hino de S. João que é entoado por todas as ruas.
 “Cheira a cravo, cheira a rosa,
Cheira a flor de laranjeira…”

O Alho Porro e o Martelinho
O Alho Porro é uma planta aromática que produz um odor intenso e desagradável. Por brincadeira, na noite de S. João os homens davam a cheirar sobretudo às mulheres, e vice versa, enquanto desciam as ruas até à Capela de S.  João. 
Ainda se mantém, não muito frequente. Foi substituído pelo “Martelinho com Música” a partir dos anos 60. É uma invenção nacional de uma empresa do Porto que virou tradição. As pessoas batem com ele na cabeça uma das outras.

Há outras tradições  que caíram no esquecimento nomeadamente a corrida do porco preto, o candeeiro, a serpe, as ciganas bravas e a dança das peles.

A Corrida do Porco Preto
Uma tradição do Sec. XVI, na madrugada de S. João, no alto da Monte do Picoto, soltava-se uma vara de porcos em que um deles era preto, um grupo de nobres bracarenses montados a cavalo perseguia os animais até junto do Rio Este. Na ponte velha sobre o Rio Este juntavam-se os moleiros e sapateiros para impedir a passagem do porco preto. Se o porco preto atravessasse o rio, o porco seria para os moleiros e sapateiros mas se o porco atravessasse a ponte, o animal seria para os nobres. No final todos os participantes aos quais se juntavam as autoridades locais vinham em cortejo onde os esperava um grande banquete no Largo do Paço.

O Candeeiro
O "Candeleiro"era um andor com um enorme círio adornado que a Câmara Municipal oferecia, sendo solenemente transportado em cortejo da Casa Municipal para a Sé, acompanhado por todo o Senado Municipal, bem como pelas bandeiras de Nossa Senhora da cidade, de São João e outras e pelas guardas municipais.
A Serpe
 A "Serpe" representava uma serpente monstruosa, de corpo sarapintado, transportada por vários rapazes, dos quais apenas se via os pés. Competia aos alfaiates apresentarem essa figura.
As Ciganas Bravas
As "Ciganas Bravas" eram um grupo de quarenta mulheres, usando trajes vistosos, precedidas por dois guias que abriam caminho para a passagem das procissões e cortejos avançados.

A Dança das Peles
A "Dança das Peles" era executada por duas raparigas padeiras uma sobre os ombros da outra, ao som de adufes e pandeiros. Rodeadas por mais moças, penteadas com ricos toucados e jóias.
Venham ao S. João de Braga e divirtam-se!

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